ALENTEJO
A história dos Vinhos do Alentejo como toda boa história é permeada de dificuldades e vitórias.
Região com a maior extensão territorial de toda Portugal, é um local de planícies ondulantes, pintadas ora de um verde no final do Inverno, ora cor de palha no final da Primavera, ora ocre no calor dos meses de Verão. Uma verdadeira aquarela sem fim.
Não se sabe ao certo quem ou quando teria sido introduzida a cultura da vinha no Alentejo, talvez algumas das primeiras videiras de Portugal, se acaso os tartessos, seguido dos fenícios, mas quando os Romanos chegaram ao Sul de Portugal a produção de vinho era algo enraizado.
Sabe-se que os gregos tiveram presença evidente em sucessão aos fenícios, tendo-se em vista as centenas de ânforas catalogadas nos achados arqueológicos do sul de Portugal.
A perseverança na produção de vinhas influenciada pelos romanos foi decisiva. Remanesce a cultura das talhas de barro usadas para a fermentação de mostos e posterior armazenagem de vinho, símbolo cultural do Alentejo. Aqueles grandes potes de barro, de volumes variados que podem chegar a suportar dois mil litros e medir até 2 metros de altura. Essa cultura ancestral das Talhas de barro incluía a sua impermeabilização com pês, uma resina natural de pinheiro, para diminuir a porosidade de suas paredes internas.
Com a invasão muçulmana no início do século VIII e subsequente islamização da Península Ibérica, a vinha foi gradualmente abandonada e só teve seu regresso expressivo com a fundação do reino de Portugal e a consagração do poder real e das novas ordens religiosas.
Pouco tempo depois, no século XVI, a vinha vingou e repintou o Alentejo de cores, texturas e diferentes expressões, materializadas nos famosos vinhos de Évora, o cobiçado Peramanca, brancos de Beja e nos palhetes do Alvito, Viana e Vila de Frades.
O Alentejo já teve os vinhos de maior fama e prestígio de Portugal, mas a crise provocada pela guerra da Restauração somada à criação pelo Marquês de Pombal da Real Companhia Geral de Agricultura dos Vinhos do Douro, instituída em defesa dos vinhos do Douro, causou o novo declive Alentejano, pois obrigou ao arranque coercivo das vinhas de diversas regiões, incluindo o Alentejo.
Imagine-se o resultado da destruição das vinhas Alentejanas? Décadas senão séculos perdidos de história e cultura do vinho, crise essa que só teve início de superação no século XIX, com a campanha de desbravamento da charneca e com a chegada de novas gerações de agricultores.
A época de ouro abrilhantou assim que um vinho branco da Vidigueira, da Quinta das Relíquias, apresentado pelo Conde da Ribeira Brava, ganhou a grande medalha de honra na Exposição de Berlim de 1888, a maior distinção do certame, sendo palco também para alguns dos vinhos de Évora, Borba, Redondo e Reguengos.
Num curto lapso, criou-se a primeira Adega Social de Portugal, em Viana do Alentejo, em 1895. Entretanto, toda a glória batalhada e alcançada foi levada às trevas pela praga da filoxera, ao lado das guerras mundiais e crises econômicas subsequentes.
Há de se considerar ainda que a campanha cerealífera do estado novo fez com que Alentejo fosse destinado à produção de trigo e cereais, transformando-se no novo “celeiro de Portugal”, com a vinha marginalizada, obrigada a se restringir ao redor de montes.
Com o patrocínio da Junta Nacional do Vinho e a sinergia e cooperação entre diversos agentes a no final da década de quarente, respaldou-se a criação do PROVA (Projecto de Viticultura do Alentejo), em 1977, o que implementou um estatuto de qualidade no Alentejo, enquanto a ATEVA (Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo), fundada em 1983, foi criada para promover a cultura da vinha nas diferentes regiões do Alentejo.
O grande marco do Vinho Alentejano deu-se enfim em 1988, com a regulamentação das primeiras denominações de origem alentejanas, seguida da criação da CVRA (Comissão Vitivinícola Regional Alentejana) em 1989, responsável pela certificação e regulamentação dos vinhos alentejanos.
Posteriormente, a CVRA em parceria com a Universidade de Évora elaborou o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA) em 2013 composto atualmente por 18 capítulos e avaliação de 171 critérios. Pautada num dos melhores Programas voltados à sustentabilidade já desenvolvidos, as planícies ondulares vagares e atrativas, dão lugar a região sustentável na produção de uva e vinho.
A terra da calmaria, da receptividade e do ar puro. Estar no Alentejo é uma sensação quase inexplicável; é uma paz que preenche a alma; tomar os seus vinhos, onde quer que seja, parece um carinho do tempo; uma pausa para o que importa na vida.
É uma mistura de tradição com modernidade, de leveza e pureza com densidade, intensidade e vigorosidade.
São 8 sub-regiões que apresentam diversas características distintivas entre si, capazes de agradar a todos os estilos; a complexidade em taça integra-se com a simplicidade da agradabilidade, da versatilidade.
As camadas de estilos dos vinhos alentejanos são percebidas nas mais vistosas e apaixonantes paisagens portuguesas que mudam de cor conforme a época visitada; os campos repletos de vinhas, sobreiros e azinheiras. Alguns acidentes do relevo, marcam a característica principal de cada uma das diferentes sub-regiões, de Portalegre, Borba, redondo, Reguengos, Évora até a Vidigueira, Granja Amareleja e Moura, proporcionando condições singulares para a produção de vinho.
Os vinhos alentejanos representam uma reunião de sentimentos em taça, exuberantes, aromáticos, intensos, envolventes e macios. Um prazer sem tempo, dada a sua capacidade ao envelhecimento e um acalento sem fim, com constante diversidade. É o resgate do nosso momento num deliciar-se sem precedentes.
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Texto: Sommelière Érika Éttori (@erikaettori).