LARANJA MANUAL
Até o século XX, apenas se encontravam vinhos de MENOR INTERVENCÃO no mercado, com a utilização de técnicas milenares; a cultura industrial é que introduziu novos conceitos e paradigmas.
A moda hoje consiste nas rotulações: certificar um vinho como orgânico ou até pretender a certificação natural, etiquetas desnecessárias e apenas “comerciais” no mundo enófilo. Geralmente, obtém-se esse tipo de certificação apenas por marketing, fugindo da filosofia de produção natural.
Imagine: se um vinhateiro já tem muito mais custo e trabalho manual no seu processo produtivo e de vinificação para trazer algo mais autêntico e ancestral às nossas mesas – o vinho como ele sempre foi – porque ele pagaria ainda mais para um certificado?
Dever-se-ia certificar os vinhos convencionais – esses sim se aproveitam do baixo custo e produção em larga escala (não que sejam ruins, pelo contrário). Claro que a política industrial jamais permitiria isso; que sofram os pequenos, autênticos e precursores em detrimento do contínuo crescimento dos grandes.
O VINHO LARANJA é um dos exemplos da ancestralidade; ele não é novo, mas isso não significa que ele seja natural: de origem georgiana (técnica milenar) na verdade é um vinho feito de uvas brancas, vinificadas como se fossem uvas tintas. Ele não possui cor laranja (não é um rosé); sua tonalidade é ÂMBAR, mas é vulgarmente conhecido como VINHO LARANJA.
O mosto permanece em contato com as cascas, resultando na tonalidade alaranjada ou, melhor dizendo, âmbar, além de certa viscosidade.
Geralmente os cachos são vinificados inteiros. A fermentação se dá por intermédio de leveduras selvagens. A clarificação comum é por decantação espontânea, resultando em resquícios de resíduos e borras-> é um vinho com certa TURBIDEZ.
Essas características originárias não costumam satisfazer o gosto padronizado geral; são vinhos arianos, mais difíceis porque muito autênticos, exigindo um pouco mais de filtragem e conhecimento na apreciação do seu ser enigmático.
O coração humano é autêntico, mas não é apenas de sangue. Ora é vermelho, ora é laranja; ora mecânico, ora orgânico, mas é sempre feito de escolhas; a minha: laranja artesanal.
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Texto: Sommelière Érika Éttori (@erikaettori).